sábado, 15 de janeiro de 2011

Reflexão sobre a parasha Beshalach.

Por Yochanan ben Avraham

A cada shabat, temos a oportunidade de aprendermos algo mais para uma vida em conformidade com a vontade do Eterno nosso Elohim, pois na sua Torá temos o caminho para a vida, e neste shabat, ao estudarmos a parashah (porção) Beshalach, nos foi revelado algo que estava imerso nas profundezas das letras hebraicas que nos ensina algo muito importante para quem deseja resistir a todas as afrontas, dificuldades e tentações que encontramos durante nossa jornada.
Em Shemot (Êxodo) 13.18 temos o seguinte:

“E fez rodear YHWH o povo pelo caminho do deserto, ao iam suf (mar de juncos). E armados subiram os filhos de Israel da terra do Egito”

A palavra armados no idioma original da Torá, o hebraico, é “chamushim” cuja grafia e sonoridade assemelham-se muito com “chumash”, que por sua vez é a palavra hebraica utilizada para designar os cinco livros da Torá ! Estaria o Eterno querendo revelar algo com isso ?
Se “chamushim” (armados) está relacionado com “chumash” (Torá), devemos ter algo mais nas escrituras que confirme esta hipótese. Felizmente, tanto no Tanach quanto na Brit Chadashá podemos constatar esta relação, vejamos:

“Então tomou o seu cajado na mão, escolheu cinco pedras lisas no ribeiro, pô-las no alforje de pastor que trazia e, lançando mão de sua funda, aproximou-se do filisteu.” Sh’muel alef (I Samuel) 17.40

Vemos aqui que David (que é um arquétipo do Mashiach), escolhe cinco pedras lisas do ribeiro para ir ao combate contra Golias, o gigante filisteu. Vale dizer também que o Eterno escreveu em tábuas de pedras, os ‘asseret ha dibrot’ (dez ditos), que sintetizam a Lei do Eterno, e não é exagero imaginar que estas tábuas de pedras, eram pedras ‘alisadas’ pelo próprio Elohim...Seria então uma mera coincidência David escolher justamente cinco pedras? Estaria o Eterno reafirmando de maneira bem sutil que ninguém poderá vencer uma guerra sem a Torá? Para comprovar esta ideia, precisamos de um testemunho que indique que alguém venceu alguma batalha utilizando apenas a Torá, eis o testemunho, Matitiyahu 4.1 – 10:

“E então foi conduzido Yeshua pela Ruach Há Kodesh ao deserto, para ser tentado pelo acusador...chegando, então, o acusador, disse-lhe ‘se tu és o Filho de Elohim manda que estas pedras se tornem em pães’. Mas Yeshua lhe respondeu: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de YHWH.’ (D’varim 8.3)
Então o acusador o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do Beit Ha Mikdash, e disse-lhe: ‘Se tu és o Filho de Elohim, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: ‘Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e eles te sustentarão nas mãos para que nunca tropeces em alguma pedra.’ (tehilim 91.11 e 12). Replicou-lhe Yeshua: ‘Também está escrito: ‘Não tentarás YHWH teu Elohim.’(D’varim 6.16)
Novamente o acusador o levou a um monte muito alto; e mostrou lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles e disse-lhe: ‘Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então ordenou-lhe Yeshua: ‘Vai-te Satan; porque está escrito: ‘A YHWH teu Elohim adorarás, e só a Ele servirás.’ (D’varim 6.13)

Este trecho narra o embate entre Yeshua e Satan, o qual foi vencido pelo Mashiach Yeshua, e assim como David derrotou Golias utilizando apenas uma das cinco pedras, Yeshua derrotou Satan com apenas um dos cinco livros do ‘chumash’, o sefer D’varim (Deuteronômio)! É importante ressaltarmos que, assim como Satan tentou usar as escrituras para justificar uma transgressão a Torá, muitos hoje tentam validar doutrinas absurdas utilizando textos isolados das escrituras... Não venceremos os adversários com elucubrações, ou com ‘estratégias' que se baseiam em uma premissa equivocada de que a Torá foi abolida. Venceremos as batalhas se, tão somente, lembrar e cumprir a santa Torá seguindo o Exemplo de Yeshua o Ungido de Israel.

Diante do exposto, não é difícil entender porque Rav. Sha’ul ha sh’liach (Paulo o emissário) escreveu:

“Pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Elohim, para demolição de fortalezas” Curintayah alef (I Coríntios) 10.4

E também:

“Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda armadura de Elohim...tomai também...a espada da Ruach, que é a palavra de Elohim (Torá).” Efessayah (Efésios) 6. 10 – 17.

A parasha Beshalach nos ensina que, não basta sairmos do Egito; é preciso estarmos "chamushim" (armados) com o "Chumash" (Torá) se quisermos vencer as batalhas e os inimigos que nos espreitam a beira do Caminho.

Shabat Shalom!!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Reflexão sobre a Parashá Bo.

Por Yochanan ben Avraham 

Neste Shabat, estudaremos a parashah (porção) "Bo". Dentre tantos assuntos e lições que podem ser extraídas do texto que se encontra em Shemot 10.1 até 13.16. Um "pequeno" detalhe em especial, nos chamou atenção. Referimo-nos as palavras escravidão (Avdut) e Serviço (Avodat). No hebraico, estas palavras são escritas com as mesmas letras, sendo elas: Ayin, Beit, Dalet, Vav e Tav. Logo, o valor guemátrico de ambas é o mesmo, sendo assim, qual seria a diferença?

Creio que os detalhes que diferenciam uma palavra da outra, estão relacionados com a mudança de um estado (escravidão) para outro (serviço ao Eterno) e assim podemos aprender uma importante lição, vejamos:

O que diferencia uma palavra da outra é a posição da letra Vav em cada uma destas, e como cada letra do alfabeto Hebraico também possui valor numérico, podemos ter uma interpretação, digamos... mais abrangente, pois sabendo o valor numérico da letra Vav, chegaremos a uma conclusão bem interessante.

Quanto a essa perspectiva, vejamos um exemplo em um documento escrito nos primeiros Séculos desta era:

"Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, CALCULE o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis." Guilyana (Apocalipse) 13.18

Neste texto,Yochanan (João) estava orientando as kehilot (assembléias/congregações) que tinham entendimento da prática de guemátria (sistema de cálculo do valor das letras hebraicas) para revelar a identidade da "besta".  Sabendo que o valor, era o valor de um homem, e que o valor do homem é seis (o homem foi criado/formado no sexto dia) e também que a sexta letra do alfabeto hebraico é o Vav. Não seria difícil saber a quem, ou o quê, Yochanan estava se referindo.

Portanto, é razoável interpretar que a posição do Vav em cada uma das palavras (Avdut e Avodat) pode significar a posição do homem diante de cada situação em questão.

O que estamos tentando dizer é que, dependendo de como nos posicionamos, o Avodat HaShem (Serviço ao Eterno), pode se tornar uma Avdut (escravidão)! Compare isso com Ma'assei ha Sh'lichim (Atos dos emissários) 15. 7 - 10.

Mas... como assim?

Quando lemos Matitiyahu (Mateus) 23.1 - 4, começamos a elucidar a questão, pois os p'rushim (Farizeus) pensando estar a serviço de HaShem, estavam oprimindo ao povo (ler Yeshayahu (Isaías) 58.1 e 2, pois alí fica claro que o Eterno convoca um povo, que aparentemente, cumpre a Torá mas na verdade necessitava se arrepender!).

Outra forma de escravidão/opressão pode ser identificada em Yeshayahu (Isaías) 46.1 e 2, vejamos:

"Bel caiu por terra, Nebo ficou prostrado, os seus ídolos estão entregues aos animais selvagens e às bestas de carga, esta carga que leváveis é um fardo para a besta cansada. Todos juntos ficaram prostrados, caíram por terra, já não conseguem salvar o seu fardo, eles mesmos foram conduzidos ao cativeiro."

Aqui Yeshayahu ha navi (Isaías o profeta), identifica os ídolos do panteão assiro-babilônico como um fardo para seus adoradores. Portanto, não é difícil associar o peso da carga que alguns "mestres" colocaram "sobre os ombros" daqueles que estão submetidos a suas doutrinas, muitas vezes impregnadas de costumes pagãos, além de interpretações tendenciosas. Isso contrasta com aquilo que Yochanan ha Sh'liach ( João o emissário) escreveu em sua primeira igeret (epístola):

"Porque este é o amor de Elohim, que guardemos as suas mitzvot (mandamentos); e suas mitzvot não são penosas (pesadas)." (Yochanan alef /1ª João 5.3).

Devemos ter em mente que uma "halachah" tem por objetivo mostrar como "caminhar" na Torah, ou seja, ela explica como cumprir os preceitos.  Dificultar o cumprimento dos mesmos, fere os princípios que a própria Torah estabeleceu acerca de seus mandamentos:

"Porque este mandamento que Eu hoje te ordeno, não te é encoberto nem está longe de ti. Não está nos céus para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que o traga a nós e nos faça ouvi-lo, para que o observemos? Pois a coisa está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para que a observes." (D'varim/Deuteronômio 30. 11 - 14)

Infelizmente muitos hoje estão sob um jugo que nada mais é do que, uma interpretação sobre outra interpretação sobre ainda outra interpretação, afastados da essência do mandamento, engessados em regras humanas que estão mais relacionadas com a vaidade do que com a elevação espiritual.


Quando deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei, quando te converteres ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma.
¶ Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti.
Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.

Deuteronômio 30:10-14

Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti.
Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.

Deuteronômio 30:11-1
Shabat Shalom!!!