sexta-feira, 24 de maio de 2013

Sedrá para o Shabat de 25/05/13 (Bamidbar 18)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

O estudo da Sedrá deste Shabat aborda alguns dos direitos e deveres dos kohanim e levi’im (sacerdotes e levitas). Aparentemente, pouco teria a nos acrescentar, tendo em vista que nem todos são levitas... quanto mais sacerdotes! Sem contar que a grande maioria de nós encontra-se na galut. Fora ainda, a ausência do Beit HaMikdash (Templo). Contudo, muito temos a aprender nas linhas que se seguem, afinal, a Torah do Eterno, é uma instrução para a vida toda.

A responsabilidade que precede a honra.

Ao longo do texto, vemos o privilégio que Aharon e seus filhos (e por extensão os levitas), teriam ao servir no santuário, o sacerdócio foi uma dádiva do Eterno; um presente, pois é exatamente o que a palavra utilizada no passuk (versículo) sete,  מתנה (matanah), significa. Isso demonstra o quanto o amor e a misericórdia do Eterno estão acima dos parâmetros humanos. Os levitas que poderiam ficar com sua reputação comprometida por causa de Korach e os duzentos e cinqüenta insurgentes dos capítulos anteriores, estavam sendo ratificados perante todo “Am Israel” (Povo de Israel), O Eterno é Justo Juiz e não lançou sobre os demais levitas, a culpa do pecado de Korach, e algum levita estivesse receoso disso, certamente após estas palavras expressaram algo como:
Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade.
Não reprovará perpetuamente, nem para sempre reterá a sua ira.
Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades.
Pois assim como o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem.
Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.
Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece daqueles que o temem.
(Tehilim/Salmos 103.8-13)

Contudo, no início deste perek (capítulo), O Eterno apresenta a Aharon o peso de sua responsabilidade, fica claro que tanto Aharon quanto seus filhos, seriam responsabilizados pelas faltas cometidas contra o santuário. Aharon, seus filhos e os levitas não poderiam ser omissos! De fato, como diz as palavras de YHWH por intermédio de Malachi:

Então sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança fosse com Levi, diz o SENHOR dos Exércitos.
Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e eu lhas dei para que temesse; então temeu-me, e assombrou-se por causa do meu nome.
A lei da verdade esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão, e da iniqüidade converteu a muitos.
Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do SENHOR dos Exércitos.
(Malachi/Malaquias 2.4-7).

Como pessoas responsáveis pela espiritualidade do povo e a santidade do Mishkan (tabernáculo), eles não poderiam fazer “vistas grossas” para a transgressão e desmazelo, do contrário, a responsabilidade recairia sobre eles! Compare isto com as palavras ditas a Yechezkel (Ezequiel):   

E sucedeu que, ao fim de sete dias, veio a palavra do SENHOR a mim, dizendo:
Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e avisá-los-ás da minha parte.
Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.
Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma.
Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer a iniqüidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá: porque tu não o avisaste, no seu pecado morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.
Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma.
(Yechezkel/Ezequiel 3.16-21)

A honra concedida aos sacerdotes e levitas não era gratuita, era o reconhecimento da grandeza e responsabilidade do serviço. Inverter esta ordem pode promover a corrupção, pois, na verdade, nenhum irresponsável deve ser honrado! Esta é uma bela lição que a Torah nos ensina hoje.

Resgate do filho primogênito.

Também neste capítulo, temos a mitzvá do “Pidyom Haben” (resgate do filho) o qual é descrito como, quando e porque deveria ser realizado. Apesar da ausência do Beit Hamikdash, ainda hoje esta mitzvá é observada em muitas sinagogas e os cinco shekalim cobrados equivalem a 101 gramas de prata.
Sobre esta mitzvá, temos um exemplo bem interessante no Tanach, falamos de Chanah e Sh’muel (Ana e Samuel):

Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu.
E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o da outra Penina. E Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha. Então Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?
Então Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava assentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do SENHOR.
Ela, pois, com amargura de alma, orou ao SENHOR, e chorou abundantemente.
E fez um voto, dizendo: SENHOR dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao SENHOR o darei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.
(Sh’muel alef/1 Samuel 1.1-2, 8-11)

É possível que a grande maioria dos que “conhecem” a história desta mulher, não esteja familiarizada com o contexto histórico da situação, sendo assim, podem achar que Chanah estava inovando... Porém, o que ela decidiu fazer foi “simplesmente” não pagar os cinco shekalim, mas entregar seu filho ao Eterno para servi-Lo, conforme determina a Torah! Isso em nada diminui o mérito desta notável mulher, pelo contrário, aumenta nossa admiração, pois, guardada as devidas proporções, ela agiu como Avraham avinu (Abraão nosso pai), demonstrando um caráter reto e fiel à YHWH.

Ninguém tem tão pouco que não possa ajudar!

Outra linda lição extraída desta sedrá encontra-se na ordem dada aos levitas para que estes dizimassem do que recebessem (ver passukim/versículos 24-28). Para entendermos a lição aqui proposta, é importante pontuar que os levitas viviam de doações, eles não possuíam herança material, portanto, alguém poderia pensar: “como alguém tão economicamente dependente dos outros poderia estar comprometido com algo assim?” A Torah está nos ensinando que mesmo aquele em situação material precária, pode ajudar o próximo, pois o levita está associado ao estrangeiro (peregrino), ao órfão e a viúva (ver D’varim/Deuteronômio 26.12 e 13). Este princípio é muito bem aplicado nos ensinamentos de Yeshua ha notsri (Yeshua o Nazareno):

E, olhando ele, viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro;
E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;
E disse: Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva;
Porque todos aqueles deitaram para as ofertas do Eterno do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha.
(Lucas 21.1-4)

A prática da tsedaka é uma forma de resgate da dignidade daqueles “menos favorecidos”, uma oportunidade para aqueles que, de alguma forma, se sentiam “diminuídos” em relação aos demais. Ao participarem, os levitas, assim como os outros citados, estavam incluídos socialmente, não eram “coitadinhos”, mas pessoas participativas na construção da sociedade israelita.


Shabat Shalom!!!

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sedrá para o Shabat de 18/05/13 (Bamidbar 17)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

No este estudo da Sedrá deste Shabat, vale dizer que nas bíblias convencionais, o Capítulo 17 se inicia com a ordem de Adonai a Moshe para que cada tribo trouxesse uma vara, um ramo em representação de sua casa paterna. Porém, este relato inicia-se somente a partir do Passuk (versículo) 16 nas bíblias hebraicas. Por esta razão, iniciaremos nossos comentários deste passuk em diante.
Lembrando do episódio, vemos que a autoridade de Aharon estava sendo questionada e O Eterno, mais uma vez, estaria dando uma prova de quem ele havia escolhido.

Uma simplicidade perturbadora?

É muito curioso o fato do povo ainda necessitar de uma “prova” de que Aharon era realmente o escolhido pelo Eterno, após sinais inconfundíveis como a morte dos rebeldes dias antes! Isto nos leva a buscar razões para tamanha descrença e uma delas pode ser a simplicidade e acessibilidade deste líder. Infelizmente, muitos julgam a instrumentalidade a partir de fatores externos, mistificando indivíduos atribuindo-lhes poderes sobre humanos ao invés de simplesmente demonstrar-lhes o devido respeito. Neste caso em particular, especulamos tal situação, a partir da seguinte sugestão: Será que o povo não conseguia respeitar a Aharon por ele está tão próximo? Já vimos em outra sedrá que o povo, por vezes, se dirigia a Aharon sem um aviso prévio, sem agendar uma audiência... Demonstrando que havia uma acessibilidade a este e parece que isso foi confundido pelo povo. Infelizmente, nós homens, temos dificuldades de reconhecer O Eterno nas coisas simples da vida, sempre buscamos algo “sobrenatural” para nos excitar ao serviço da justiça. No entanto, se não reverenciamos ao Criador nas pequenas coisas da Vida, como poderemos fazer isso nas grandes? Como foi dito:

“Se alguém diz: Eu amo ao Eterno, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu como pode amar ao Eterno, a quem não viu?”
(Yochanan alef /1 João 4.20)

A Torah ensina o amor:

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.” (Vayikrá /Levítico 19.18)

Se o povo não “temia” aquele que oficiava em nome de YHWH, como poderiam temer o próprio YHWH? Nada mais contraditório do que se dizer zeloso da Lei e ser difamador, vingativo e iracundo.

A diferença está nos frutos.

A Torah descreve a prova em que os representantes das casas paternas foram submetidos:

“Então falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
Fala aos filhos de Israel, e toma deles uma vara para cada casa paterna de todos os seus príncipes, segundo as casas de seus pais, doze varas; e escreverás o nome de cada um sobre a sua vara.
Porém o nome de Arão escreverá sobre a vara de Levi; porque cada cabeça da casa de seus pais terá uma vara.
E as porás na tenda da congregação, perante o testemunho, onde eu virei a vós.
E será que a vara do homem que eu tiver escolhido florescerá; assim farei cessar as murmurações dos filhos de Israel contra mim, com que murmuram contra vós.
Falou, pois, Moisés aos filhos de Israel; e todos os seus príncipes deram-lhe cada um uma vara, para cada príncipe uma vara, segundo as casas de seus pais, doze varas; e a vara de Arão estava entre as deles.
E Moisés pôs estas varas perante o SENHOR na tenda do testemunho.”
(Bamidbar /Números 17.1-7)

O que ratificou a escolha de Aharon perante o povo, foi o fato de sua vara florescer e frutificar como se lê a seguir:

“Sucedeu, pois, que no dia seguinte Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, florescia; porque produzira flores e brotara renovos e dera amêndoas.”
(Bamidbar/Números 17.8)

Seguindo a intenção de buscar uma aplicação prática para nosso dia a dia, entendemos que a Torah está ensinando que alguém escolhido pelo Eterno, se destaca pelo seu fruto. Este fruto brota de uma vida de meditação e prática da Lei do Eterno como disse o Salmista:

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.”
(Tehilim/Salmos 1.1-3)

Este princípio era compreendido ainda no primeiro século de nossa era como podemos constatar da seguinte forma: Fruto do Espírito é descrito como sendo uma consequência de se andar no Espírito, vejamos o que está escrito:

"Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia,
Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” (Gálatas 5:16-23)
O que poucos percebem, é que este texto diz apenas qual é o fruto do Espírito, ou seja, a consequência de se andar no Espírito... Mas não diz propriamente o que é andar no Espírito! É como se alguém nos dissesse que nos foi dado um tesouro, mas não disse onde este tesouro estaria... Frustrante não acha? Porém tudo se esclarece em outro texto, vejamos:

"Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Elohim, pois não é sujeita à lei (Torá) de Elohim, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Elohim."  (Romanos 8:5-8)


Supondo que o autor da carta aos Gálatas seja Sha'ul (Paulo), vejamos como os textos se harmonizam, pois demonstram que a inclinação da carne é uma insubordinação à Lei do Eterno, isto significa então que, sujeição a Lei do Eterno é uma inclinação espiritual, ou porque não dizer, é andar no espírito...
De fato, o mesmo Sha'ul nos dá um entendimento mais claro sobre isso ao dizer que a Lei (Torá) é espiritual:

"Porque bem sabemos que a Lei é espiritual..." (Romanos 7:14)

Os ramos (varas) escolhidos ?

No texto de Bamidbar (Números), a palavra original utilizada para designar ‘vara’ é “mateh” (מטה). Aliás, existem muitas outras palavras hebraicas que são traduzidas como vara e sugerem algumas interpretações interessantíssimas, indicando possíveis sinais dos escolhidos, vejamos quais são:

*גליל -------------(Galil) “A Hebrew-English Lexicon of the old testament”(Brown,Driver ,Brigs,1905)
*חטר -------------(Choter) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מוט ------------- (Mot) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מטה -------------(Mota) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מקל -------------(Maqel) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*מטה--------------(Mateh) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*עץ  --------------(Ets) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*פלך-------------- (Pelech) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)
*שבט------------- (Shevet) “Dicionário Int. de Teologia do Ant. Testamento” (Ed. Vida Nova)

Chama nossa atenção, o fato de uma das palavras que podem ser traduzidas como vara ser “Galil”, justamente a região onde Yeshua ben Yosef começou a formar seus primeiros talmidim (discípulos). Isso pode não passar de mera coincidência, mas o fato de homens galileus terem sido os escolhidos para levar adiante sua mensagem não deixa de ser, no mínimo, curioso. Ainda mais quando estes primeiros talmidim eram conhecidos como “Netsarim” (plural de Netser) que significa Ramos... ("Mas estes sectários... não chamavam a si mesmos de cristãos, mas de Nazarenos (Netsarim)...". (Epifânio; Panarion 29).
Esta forma de se identificarem, usando o nome daquele que era a síntese do grupo, Yeshua ha Notsri, deriva da compreensão que tinham do texto de Yeshayahu ha navi (Isaías o profeta) 60.21:

“E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos (netser) por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.”

Ou seja, eles se viam como os remanescentes de Israel, doutrina exposta no Tanach, bem resumida em Tsefanyah (Sofonias 3.11-13).

Conclusão.

Muitos reivindicam o “status” de serem os escolhidos do Senhor, e por conta disso sentenciam os outros à condenação. Na verdade, a diferença entre quem serve e quem não serve à Ele, está intimamente relacionada com uma vida de obediência e não apenas de “ciência” de Suas palavras.
Assim como as flores e os frutos que brotaram na vara de Aharon confirmaram a sua escolha, são os frutos do espírito que identificam o caráter de um tsadik (justo).

Shabat Shalom!!! 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Fator Samaria, uma "difícil" missão para o Messias.


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.


Um dos tópicos da emunah (Fé) israelita mais discutido e até mesmo incompreendido é o que trata do tema “Mashiach” (Messias). A discussão se dá e se prolonga, justamente por causa de todas as idéias que a bíblia sugere. Por isso, a expectativa pelo Messias desenvolveu-se sobre três aspectos principais: Um Messias régio, idéia mais difundida e aceita pela maioria; um Messias sacerdotal e um Messias transcendente. Estas diferentes formas de se definir tanto a identidade quanto a obra deste personagem é fruto da falta de clareza dos textos a esse respeito, permitindo que tais expectativas se desenvolvessem com certo embasamento. Este presente artigo, não tem a pretensão de elucidar a questão, mas pretende sim, acrescentar um ingrediente àquilo que, aparentemente, é consensual entre todos os grupos que afirmam a esperança messiânica, ou seja, a restauração de Israel enquanto reino, aos moldes dos tempos de David e Sh’lomo (Salomão) que, provavelmente são os principais arquétipos do Messias.

Entendendo a Restauração.

Para entendermos o porquê da restauração do reino israelita ser uma promessa, e esta promessa estar ligada ao Messias, é necessário saber que Israel alcançou um estágio social, político, econômico e espiritual em sua história muito próximo do ideal (apesar de uma ou outra turbulência).
Foi na coroação de David que percebemos um nível de unidade jamais vivido na história israelita (ver II Sam. 5.1-5) e foi no reinado de Sh’lomo que Israel alcançou grande prosperidade (ver I Re. 4.20,21). Esta condição de unidade e prosperidade serve como modelo para a esperança messiânica no “ben David” (filho de David).
Porém, o estado quase “utópico” de Israel chega ao fim... E o relato deste epílogo está descrito nos capítulos 11,12 e 13 de Melachim alef (1 Reis), os quais revelam que:

* Israel foi um reino composto pelas doze tribos.

*Governado por um único “Rosh” (cabeça/líder) David e depois Sh’lomo.

*Que se dividiu em “dois reinos” (duas casas); que passaram a ser conhecidas como Reino de Yehudah (Judá), composto pelas tribos do Sul (Yehudah e Biniamim/Benjamim) e Reino de Israel (Efraim), composto pelas dez tribos do norte que restaram.

Após esta divisão, cada um destes reinos passou a ter sua própria vida, estabelecendo seu próprio rei, capital, lugar sagrado, sacerdotes e data para celebração das festas da Torah. Como podemos verificar no quadro abaixo:

Elementos
Yehudah
Israel (Efraim)
Rei
Rechavam
Yerovam I
Capital
Yerushalayim
Shomeron
Templo
Em Yerushalayim
Em Dan e Beit’El
Sacerdotes
Levitas
Homens do povo
Chag sukot (festa das tendas)
15º do 7º mês
15º do 8º mês
Foi neste cenário que a hostilidade entre Yehudim (judeus) e shomronim (samaritanos; nome pelo qual os israelitas do norte passaram a ser denominados posteriormente) se desenvolveu.
Após o edito de Ciro em 538 a.C., os judeus se restabeleceram em Yerushalayim. Estes não consideravam os habitantes do distrito de Shomeron (Samaria) como verdadeiros israelitas posto que eram descendentes de uma população mista (ver Os. 7.8), (talvez seja por isso que os judeus faziam tanta questão da genealogia como forma de se afirmarem como o verdadeiro povo de YHWH). De fato, após a dominação assíria ocorrida a partir de 721 a.C., várias comunidades mesopotâmicas tinham sido transferidas para Israel (Efraim), as quais introduziram ali o culto de seus próprios deuses (Melachim beit /II Reis. 17).

A distância aumenta.

A hostilidade entre judeus e samaritanos é retratada diversas vezes ao longo do Tanach (Velho testamento) e também na Brit Chadashah (Novo testamento), dentre outras passagens, destacamos as seguintes:

*Ezra (Esdras) 4.

*Nechemyah (Neemias) 4; 6.1-14

*Macaby alef (I Macabeus) 3.10; 10.30,38; 11.24,34.

*Ben Sirach (Eclesiástico) 50.25,26.

*Bessorah Yochanan (Boas novas de João) 4.7-9; 8.47,48.

*Bessorah Luka (Boas Novas de Lucas) 9.51-53

A rivalidade iniciada tornou-se um ódio visceral, ao ponto dos judeus terem maior aversão aos samaritanos que os pagãos. Mas no que criam os samaritanos para tornar a rivalidade tão intensa? Isso nós veremos mais adiante, antes disso, devemos saber que apesar de toda assimilação dos israelitas do norte (samaritanos) ocorrida por causa da invasão assíria, parece que as crenças estrangeiras não prevaleceram sobre a crença no Elohim verdadeiro, embora esta, possivelmente, tenha sofrido algum sincretismo. A permanência na crença em YHWH entre os samaritanos pode ser justificada pelo relato de Melachim beit (II Reis) 17.24-28 e também por não haver entre as acusações judaicas contra os samaritanos, uma que indique que os samaritanos teriam tornado-se idólatras.
O problema então parece estar relacionado às reivindicações samaritanas quanto sua primazia em relação aos judeus... Vejamos:
William E. Barton relatou uma audiência com um alto sacerdote samaritano, para explicações sobre um tratado samaritano sobre a “esperança messiânica”, ali, fica implícito o porquê das reivindicações samaritanas perturbarem tanto os judeus, pois estas não estão desprovidas de certa “lógica”.
Na entrevista, foi alegado pelo sacerdote, que em Bereshit (Genesis) 49.10, por exemplo, Shiloh é uma referência a Sh’lomo (Salomão) e que o cetro foi retirado de Yehudah nessa época, pois por causa da idolatria trazida a Yerushalayim, o cetro agora estaria em Shechem.
Outra reivindicação samaritana, diz respeito ao local de adoração, pois enquanto os judeus afirmavam ser o Templo erguido por Sh’lomo em Yerushalayim o lugar sagrado para o culto a YHWH, os samaritanos, por sua vez, passaram a afirmar que o Monte Gerizim (o monte da benção descrito em D’varim/Deuteronômio 11.29) seria tal lugar.
É certo que os samaritanos, em uma data incerta, construíram um templo ali, que foi destruído por João Hircano em 128 a.C., mas, contudo, continuou sendo um lugar de culto samaritano até meados das três primeiras décadas do primeiro século de nossa era. É possível, inclusive, observar (ainda que de forma superficial), a existência desta disputa na Brit Chadashah em Yochanan (João) 4.20 e também no versículo 25 deste mesmo capítulo, havia a expectativa de que “alguém” viria esclarecer esta questão.
Na verdade, existem mais de vinte e cinco pontos divergentes entre a crença samaritana e judaica, (ver Differences between the Jews and Samaritans by Shomron) algumas é verdade, são irrelevantes outras, porém difíceis de serem contornadas.
Diante destes relatos, alguns estudiosos chegam à conclusão de que a ruptura no relacionamento humano entre judeus e samaritanos é maior do que qualquer outra no mundo contemporâneo. Portanto, pensar numa reunião das duas casas, constitui uma tarefa sobrenatural, pois não bastaria habilidade diplomática para dirimir este problema.

Entendendo a promessa.

O que pretendemos dizer, é que foi criada uma grande distância entre as duas casas, cujas diferenças vão requerer de quem quer que seja mais do que palavras, somente alguém com uma unção especial para construir uma ponte entre os dois povos, alguém assim, preencheria um dos requisitos para ser o Mashiach aguardado.
Consideramos um erro crasso, tentar definir tanto a obra quanto a identidade do Messias, sem considerar este aspecto. O Messias seria alguém que deveria comunicar tanto a judeus quanto a samaritanos, não se trata de quem estaria certo ou errado, mas de cumprimento profético, pois o que é dito pelos Nevi’im (profetas) deixa claro que isto ocorrerá. Judeus e samaritanos terão que se unir novamente como diz Yechezkel/Ezequiel:

E outra vez veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira, e escreve nele: Por Judá e pelos filhos de Israel, seus companheiros. E toma outro pedaço de madeira, e escreve nele: Por José, vara de Efraim, e por toda a casa de Israel, seus companheiros.
E ajunta um ao outro, para que se unam, e se tornem uma só vara na tua mão.
E quando te falarem os filhos do teu povo, dizendo: Porventura não nos declararás o que significam estas coisas?
Tu lhes dirás: Assim diz o Senhor YHWH: Eis que eu tomarei a vara de José que esteve na mão de Efraim, e a das tribos de Israel, suas companheiras, e as ajuntarei à vara de Judá, e farei delas uma só vara, e elas se farão uma só na minha mão.
E as varas, sobre que houveres escrito, estarão na tua mão, perante os olhos deles.
Dize-lhes, pois: Assim diz o Senhor YHWH: Eis que eu tomarei os filhos de Israel dentre os gentios, para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei à sua terra.
E deles farei uma nação na terra, nos montes de Israel, e um rei será rei de todos eles, e nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos.
(Yechezkel/Ezequiel 37.15-22)

Oshea (Oséias) é outro profeta a anunciar esta restauração:
E tornou ela a conceber, e deu à luz uma filha. E YHWH disse: Põe-lhe o nome de Lo-Ruama; porque eu não tornarei mais a compadecer-me da casa de Israel, mas tudo lhe tirarei.
Mas da casa de Judá me compadecerei, e os salvarei por YHWH seu Elohim, pois não os salvarei pelo arco, nem pela espada, nem pela guerra, nem pelos cavalos, nem pelos cavaleiros.
E, depois de haver desmamado a Lo-Ruama, concebeu e deu à luz um filho.
E YHWH disse: Põe-lhe o nome de Lo-Ami; porque vós não sois meu povo, nem eu serei vosso Elohim.
Todavia o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não pode medir-se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Elohim vivo.
E os filhos de Judá e os filhos de Israel juntos se congregarão, e constituirão sobre si uma só cabeça, e subirão da terra; porque grande será o dia de Jizreel.
(Oshea/Oséias 1.6-11)

O mashiach não esqueceria os samaritanos (efraimitas), pois ele, como o enviado de HaShem saberia que:

Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho.
Mas, como os chamavam assim se iam da sua face; sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura.
Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava.
Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.
Não voltará para a terra do Egito, mas a Assíria será seu rei; porque recusam converter-se.
E cairá a espada sobre as suas cidades, e consumirá os seus ramos, e os devorará, por causa dos seus próprios conselhos.
Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; ainda que chamam ao Altíssimo, nenhum deles o exalta.
Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Poria-te como Zeboim? Está comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem.
Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque eu sou Elohim e não homem, o Santo no meio de ti; eu não entrarei na cidade.
Andarão após o SENHOR; ele rugirá como leão; rugindo, pois, ele, os filhos do ocidente tremerão.
(Oshea/Oséias 11.1-10)

Evidentemente que, sob uma perspectiva etnocêntrica, estaremos impedindo um ou outro de receber esta promessa, mas O Eterno ama os seus filhos Judá e Efraim, e saberia como se dirigir a eles para trazê-los de volta, o Messias saberia como transpor as barreiras de comunicação que a hostilidade histórica criou entre eles.

O Taheb.

Os samaritanos também guardam uma esperança, e suas expectativas em um futuro glorioso se baseiam exclusivamente na Torah. Esta esperança é depositada no surgimento do “Taheb” (restaurador) que, segundo a crença samaritana, seria um profeta semelhante à Moshe (Moisés) conforme descrito em D’varim (Deuteronômio) 18.15-18.
Em um dos livros samaritanos, conhecido como “Memar” compilado pelo estudioso samaritano Maqar, cuja data mais provável de sua composição seria os primeiros séculos de nossa era, (embora existam aqueles que acreditem que seja entre 20 a.C. e 50 d.C.), pode-se ter uma boa noção da teologia e escatologia deste grupo, no Memar, o Taheb traria uma era de ouro; intercederia pelos pecadores e os salvaria... E mais ainda, pois segundo Memar 1.2, o Taheb seria uma espécie de vice-regente e assim como Moshe foi como Elohim para Aharon (Shemot/Êxodo 4.16), é dito em Memar 4.7, que quem acredita nas palavras do Taheb, crê em YHWH. Isto é muito curioso, pois Yochanan (João) 12.44 e 45 e Yochanan (João) 5.16 e 47 dizem coisas muito semelhantes! Ainda que alguns rejeitem o “status” messiânico do Taheb, negar este aspecto do personagem é um erro muito difícil de justificar, pois profetas também são ungidos (mashiach é a palavra hebraica para ungido). Portanto, não é nenhum exagero dizer que o “Taheb” é o “Messias” samaritano.
Embora os samaritanos não creiam no Tanach, (por razões obvias!) Existem motivos de sobra nele para os samaritanos cultivarem uma esperança, ainda que ela divirja um pouco de sua forma de entender o futuro, pois ao mesmo tempo em que Israel (Efraim) é chamado de “Lo ami” (Não é meu povo), existe a promessa de que eles novamente seriam chamados de Filhos do Elohim vivo como vimos no tópico anterior.


Uma profecia curiosa.

Yeshayahu ha navi (Isaías o profeta), nos fornece uma profecia curiosa envolvendo as duas casas de Israel (Yehudah e Efraim), pois é anunciado que um tropeço seria colocado para ambas as casas... E o que não seria mais embaraçoso para um Yehudim (judeu), do que admitir um relacionamento com um shomronim (samaritano)? E o que não seria mais embaraçoso para um samaritano do que admitir que a salvação venha dos judeus? De qualquer forma, a promessa de restauração diz respeito a estes dois povos e, com permissão para a repetição, considerar a expectativa de apenas um destes se configura um grande equívoco interpretativo.

Considerações finais.

Atualmente, os judeus são milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, enquanto os samaritanos estão resumidos há um pequeno numero residente nas cidades Nablus e Holon na Cisjordânia. A ironia é que no passado estes que eram acusados de se misturar com as nações estrangeiras, hoje correm o risco de desaparecerem por causa da escassez de mulheres na comunidade e por ser estritamente proibido o matrimônio com estrangeiras, a menos que estas aceitem viver conforme a tradição samaritana... Algo que, diga-se de passagem, é muito difícil para quem vê de fora.
A verdade é que sendo algumas centenas hoje ou milhares no passado, os samaritanos como israelitas que são, fazem parte do plano de restauração revelado nas escrituras.

Referências:

Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br reportagem 31/03/2013 - 03h40)
BARTON, William E. “O Messias Samaritano”
MACKENZIE, John L. “Dicionário Bíblico – Ed. Paulinas, 1983 pg. 839,840.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sedrá para o Shabat de 11/05/13 (Bamidbar 16)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Numa leitura mais atenta desta sedrá, podemos perceber que, embora tenhamos a impressão de uma única situação descrita, trata se de acontecimentos diferentes, pois temos grupos, motivos, reclamações e punições diferentes acontecendo quase, ou mesmo, simultaneamente.
Uma vez percebida as diferenças, podemos extrair algumas lições práticas para nossa jornada no “Olam Hazé’ (Tempo/Mundo atual).

O Primeiro grupo e suas reivindicações.

Conforme o texto, o nome que encabeça todo o imbróglio é o de Korach ben Yits’har. Korach era um levita, isto é, fazia parte da tribo escolhida pelo Eterno para o serviço no “Mishkan” (Tabernáculo), isto significa que ele não era uma pessoa qualquer, mas o teor de suas palavras dá a impressão de que ele era alguém desprezado, injustiçado ou algo do gênero. No entanto, como levita, gozava do privilégio de servir naquilo que era o centro da vida israelita, já que Israel vivia um regime teocrático com uma ‘sociedade templaria’ em desenvolvimento.
Do quê Korach reclamava afinal? A resposta encontra-se nos passukim (versículos) 8 ao 11. Korach queria a kehunah (sacerdócio)... Qual o problema de se desejar tão nobre função? Isto nós explicaremos mais adiante.
Para entendermos a situação, é necessário retornarmos terceiro capítulo de Bamidbar (Números):

“E falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo o primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus.”
(Bamidbar/Números 3.11-12)

“E falou o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, dizendo:
Conta os filhos de Levi, segundo a casa de seus pais, pelas suas famílias; contarás a todo o homem da idade de um mês para cima.
E Moisés os contou conforme ao mandado do SENHOR, como lhe foi ordenado.
Estes, pois, foram os filhos de Levi pelos seus nomes: Gérshon, e Kehat e Merari.”
(Bamidbar/Números 3.14-17)

Os levitas estavam divididos em três grupos principais e cada grupo tinha sua responsabilidade no serviço, montagem, desmontagem e transporte do mishkan e seus utensílios na seguinte forma:

Gershon
Cuidavam da habitação/instalação do Mishkan e sua cobertura, véu de entrada da tenda da reunião, cortinas do átrio, véu de entrada do átrio e cordas necessárias ao serviço.

Kehat
Cuidavam da Arca, mesa, candelabro, altares, objetos sagrados do culto e do véu com todos os pertences.

Merari
Cuidavam das tábuas, vigas, colunas e bases de todos acessórios e de todos os utensílios, assim como das colunas que rodeiam o átrio, suas bases, estacas e cordas.

Diante destas informações, podemos ver que Korach, fazia parte do clã que cuidava das coisas mais sagradas do Mishkan... Uma grande honra! Mas mesmo assim ele queria mais, ele queria a kehunah (sacerdócio). Embora fosse um kehatita, sua parte não era sacerdotal, pois isto estava reservado aos seus primos, os filhos de Amram. (É importante dizer que Kehat ben Levi (Kehat filho de Levi) teve quatro filhos: Amram, Yits’har, Hebron e Uziel.)
Korach estava fazendo uma queixa de Aharon e seus filhos, questionava uma determinação do Eterno, e como alguém ligado ao lado espiritual do povo, percebemos porque o seu nome é tido como o principal rebelde da situação, pois se o espiritual vai mal, consequentemente o material acompanhará a direção...
Se Korach era levita, do clã kehatita, responsável por um importante serviço, portanto, inserido num contexto especial na vida dos hebreus, percebemos que ele não queria servir, mas “aparecer”, queria destaque e não submissão. Esta é a primeira lição que tiramos desta sedrá, devemos cuidar de nossas motivações para que a vaidade não se apodere de nossas intenções e ações e assim nos tornarmos reprováveis perante os olhos dAquele que tudo vê. Que possamos tomar, por exemplo, as palavras de Yeshua ben Yosef, ha notsri:

“... O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Matitiyahu/Mateus 20.28)

O segundo grupo e suas reivindicações

Assim como Korach liderava o primeiro grupo, entendemos que Datan e Aviram, bnei Eliav (filhos de Eliav). Estes, diferentemente de Korach, não faziam parte do serviço sagrado, pois não eram levitas, mas Rubenitas, ou seja, pertenciam a tribo de Reuven (Ruben). A queixa destes foi contra Moshe, um questionamento a liderança política que este exercia, a prova disso foi reação que Moshe teve ao ter conhecimento da murmuração:

E Moisés mandou chamar a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe; porém eles disseram: Não subiremos;
Porventura pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para nos matares neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós?
Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos.
Então Moisés irou-se muito, e disse ao SENHOR: Não atentes para a sua oferta; nem um só jumento tomei deles, nem a nenhum deles fiz mal.
(Bamidbar/Números 16.12-15)

Punições diferentes.

É notável a diferença das medidas tomadas por Moshe para sanar o problema, com relação à Korach e os levitas que estavam com ele, foi proposto um teste onde todos os duzentos e cinqüenta homens mais Aharon e Moshe, deveriam apresentar seus incensários perante HaShem.
Quanto a Datan e Aviram, Moshe exclamou: “Não atentes para a sua oferta...”
 O texto vai se desenvolvendo, indo e vindo da tenda da congregação ao acampamento onde estavam as tendas de Datan e Aviram, entre os rubenitas, mas as sentenças foram diferentes e aconteceram, aparentemente na mesma hora, mas em locais diferentes! Isso pode causar certa confusão ao leitor mais afoito, mas as coisas se desenvolveram da seguinte forma:
*Os duzentos e cinqüenta homens estavam reunidos com Moshe e Aharon como seus incensários na tenda da reunião.
*O Eterno Ordena que Moshe saia de lá, pois Ele os consumiria.
*Moshe intercede sem sucesso.
*Moshe se lavanta e vai a Datan e Aviram, seguido pelos zakanim (anciãos).
*Moshe avisa ao povo para se desviarem destes homens ímpios.
*Datan e Aviram saíram à porta de suas tendas com suas famílias.
*Moshe pede um sinal: Uma punição extraordinária que não deixasse dúvidas.
*A terra se abre, e traga os rebeldes vivos e no mesmo momento, saiu fogo do Eterno consumindo os duzentos e cinqüenta homens que ofereciam incenso na tenda da congregação.

Considerações finais.

É surpreendente lermos no final deste capítulo 15, que no dia seguinte, mesmo com todas as demonstrações extraordinárias, parte povo tenha se voltado contra Moshe e Aharon... Ficamos perplexos diante da dureza de coração dos insurgentes. Isso mostra a baixa espiritualidade em que estavam encerrados, não foram capazes de fazer a leitura correta da situação, pois estavam totalmente voltados para questões matérias e envolvimentos emocionais, que os impediam de avaliar a situação esquecendo-se de sua vocação e herança. Que não sejamos assim para o bem de nossas almas.

Shabat Shalom!!!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sedrá para o Shabat de 04/05/13 (Bamidbar 15)


Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Neste Shabat, apesar de lermos apenas um perek (capítulo), temos inúmeras lições a serem aprendidas, pois ao longo dos 41 passukim (versículos) desta sedrá, diversas instruções são transmitidas no intuito de moldar o caráter do povo para a entrada na terra prometida. Leis sobre sacrifícios e ofertas para serem feitos em Erets Israel (Terra de Israel); inclusão dos estrangeiros; transgressões comunais e individuais e seus respectivos ritos expiatórios; transgressões involuntárias, por ignorância e transgressões propositais; profanação do Shabat e sua conseqüência e, finalmente, a mitsvá (mandamento) do “tsitsit” (franjas utilizadas nas vestes). Todas estas situações são amplamente comentadas e diversas aplicações foram feitas no decorrer dos séculos, contudo, é através da repetição, do inculcamento destas palavras, que poderemos alcançar um nível de entendimento que nos levará além da mera verbalização destes preceitos.

Um lugar especial.

Nos primeiros 21 passukim (versículos), O Eterno recomenda uma série de ritos para serem executados quando os hebreus adentrarem a terra prometida. Isto, por si só, já demonstra que o lugar que o povo passaria a habitar não era comum, pois a especificidade ritualística para a ocasião expressa nas palavras: “Quando tiverdes entrado na terra...” não deixa dúvidas quanto a isso.
As recomendações dadas sugerem duas coisas muito importantes para a continuidade do povo hebreu. A primeira nos fala de uma esperança nacional reavivada, porque o momento que o povo estava vivendo, era um momento traumático, pois eles haviam ouvido uma dura sentença por parte do Eterno por causa do relato difamatório dos dez espias, por isso, sabe-se lá qual eram os temores que passaram a habitar seus corações, já que “líderes” não haviam sido poupados, o que poderia então acontecer com eles? Será que o povo, pela sua inconstância, seria exterminado antes de chegar a Kena’an? Não podemos afirmar... Mas seja qual for o estado de espírito dos hebreus, O Eterno, ao instruir sobre rituais para serem executados quando entrarem na terra estava garantindo que a promessa seria cumprida, renovando, por assim dizer, a esperança nacional de um lugar para se estabelecerem e viverem livremente. Isto é um indício de que sempre haverá um remanescente de Israel.
Em segundo lugar, ao especificar mandamentos para serem cumpridos em “Erets Israel”
(Terra de Israel), percebemos que, no mínimo, esta terra seria diferente de todos os lugares que o povo já havia percorrido. De fato, a leitura dos profetas demonstra isso com clareza, esta diferença seria a santidade. Ao dizermos santidade, não estamos dizendo que seria algo etéreo, de caráter simbólico apenas, de outra forma, os mandamentos não seriam tão específicos quanto ao local para serem executados. Sim, o local tem total relevância, como podemos constatar nas palavras de Yeshayahu /Isaías:

“Palavra que viu Isaías, filho de Amós, a respeito de Judá e de Jerusalém.
E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações.
E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do SENHOR.”  (Yeshayahu/Isaías 2.1-3)

Israel representa o Reino de YHWH, é a embaixada do "Malchut Hashamaim" (Reino dos Céus) na terra e desde os primórdios têm sido preparada para isso, por isso dizemos: É uma Terra Santa.

Quem são os estrangeiros?

A Torah proíbe terminantemente que algum ‘estrangeiro’, seja tratado com distinção. Contudo, é preciso esclarecer algumas coisas em relação a isso, pois a palavra utilizada para estrangeiro nesta passagem é “גר” (Guer) e não “גוי” (Goy) ou “נכר” (Nekar).
Guer, em poucas palavras, é alguém que aceitou os preceitos de Adonay e passou a caminhar com (e como) os israelitas, podemos chamá-lo de “prosélito”. Goy por sua vez, é um termo direcionado especialmente para referir-se a grupos de pessoas em seu aspecto político, étnico ou territorial, sem objetivo de atribuir a tais pessoas uma conotação religiosa ou moral específica. (DITAT, pg 252), Ou seja, outro povo, separado tanto ideologicamente quanto territorialmente de Israel. Nekar geralmente é traduzido por “estranho” ou “estrangeiro”. Corroborando com isso temos Shemot/Êxodo 22.20:

“O estrangeiro (Guer) não afligirás, nem o oprimirás; pois estrangeiros (Guerim) fostes na terra do Egito.”

Após entendermos a diferença dos termos, é importante dizer que aqueles que reivindicam ter Avraham (Abraão) como pai, devem manter o pacto que ele fez. Ninguém é filho de Abraão só por dizer, mas devem andar como ele andou e para saber como foi isso basta lermos Bereshit 26.5:

“Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis.”

Se você é estrangeiro e despreza o Shabat, Brit Milah (circuncisão) os Moedim (Festas da Torah), a kashrut (leis alimentares) e outros mandamentos da Torah, você não é um “guer”, pois não está andando como um filho de Avraham. Mas se desejas ser acolhido pelo Elohim de Avraham e estar sob a tenda de nosso Patriarca saiba que:

E não fale o filho do estrangeiro (nekar), que se houver unido ao SENHOR, dizendo: Certamente o SENHOR me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca. Porque assim diz o SENHOR a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:
“Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará. E aos filhos dos estrangeiros (Nekar), que se unirem ao SENHOR, para o servirem, e para amarem o nome do SENHOR, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.” (Yeshayahu/Isaías 56.3-7)

“Pecadinho” e “Pecadão”?

Quantos de nós já ouvimos a expressão: não existe “pecadinho” ou “pecadão”... Pecado é pecado! Ao lermos a Torah, a impressão que temos é outra, podemos sim diferenciar os pecados cometidos. O texto é claro na distinção destes, vejamos:

Pecado por inadvertência.
Comunidade: Oferecerá um novilho como oferta de elevação e um cabrito pelo pecado.
Individuo: Sacrificará uma cabra de um ano.

Pecado deliberado ou proposital.
Não há sacrifício para remissão deste, a pena é a morte.

Se o povo não foi advertido pelos seus líderes e, por ignorância cometer um delito, há esperança para remissão deste. Já para aquele que faz parte do povo, mesmo sabendo que o que faz é errado e continua no delito... Deve ser banido, pois tal indivíduo despreza a palavra de YHWH.
Alguns entendem que o banimento da alma que peca deliberadamente, é algo espiritual. Sendo assim, o princípio permanece e textos do chamado Novo testamento demonstra que a comunidade dos seguidores de Yeshua nos primeiros séculos não aboliu este aspecto da Lei, mas compreendia exatamente como proposto acima, vejamos alguns:

“Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados. Mas certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.” (Ivrim/Hebreus 10.26-27)

“Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e O Eterno dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore.  (Yochanan alef/1 João 5.16)

A santidade do Shabat

Muito já se escreveu sobre o Shabat, e muito ainda se escreverá. Muitos de nós já lemos diversos ensinamentos sobre a importância de observarmos este dia, mas impressão que temos é que pouco se entendeu.
Ao lermos que um homem foi morto por não guardar o Shabat, isso deveria nos levar a uma profunda reflexão: Por que é tão grave quebrar um Shabat, o que há de tão especial neste dia para que O Eterno sentenciasse alguém a uma morte tão dolorida?
Primeiramente, o homem que foi morto estava enquadrado no que a Torah, alguns passukim (versículos) acima descreveu: Ele pecou deliberadamente, desprezando o mandamento do Eterno. Em segundo lugar, como dissemos na introdução desta Sedrá, O Eterno estava moldando o caráter do povo, e a advertência foi exemplar.
É preciso entender que a Torah enfatiza a ética e o ritual e como disse Aryeh Kaplam:
“Todos nós podemos entender a importância das leis éticas do judaísmo. Nenhum de nós tem dificuldade em compreender porque a Torah nos proíbe matar ou roubar ou porque não devemos ofender ou ferir outra pessoa”. E em relação aos rituais, seu objetivo está no fortalecimento do relacionamento com O Eterno, é no Shabat que estas duas vertentes se encontram e por questões de brevidade, não abordaremos tudo o que isso envolve, mas sintetizar em algumas palavras a idéia deste conceito.
A guarda do Shabat é o único mandamento iniciado com a frase: “Lembra-te”, (talvez porque O Eterno já sabia que os homens esqueceriam), em Shemot/Êxodo 20, temos uma associação do Shabat com a criação, de fato, se os homens observassem o shabat dificilmente haveria ateus, pois ao se perguntar o porquê de observarmos tal dia, uma criança ouviria: “Porque O Eterno criou todas as coisas em seis dias e no sétimo descansou...” Logo, é uma questão de crença e não apenas de descanso.
Em D’varim /Deuteronômio 5 O Shabat têm seu propósito ampliado, pois ele é associado a saída do Egito, portanto, está ligado aos milagres, a libertação, a peregrinação e sustento no deserto. Profanar o Shabat é abdicar da nossa identidade como povo de YHWH, pois este dia é o sinal entre nós e o Altíssimo:
 
“Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica.
Entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-se.”
(Shemot/Êxodo 31.13, 17)

Não faça tudo o que vier na cabeça!

O final deste capítulo traz um mandamento muito interessante, a ordem sobre a confecção de franjas (ou cordas trançadas) que contenham um fio azul para serem presas as vestes dos hebreus. Este assunto já rendeu muitas discussões sobre qual a tonalidade do azul a ser utilizada, tamanho das franjas (ou cordas), a que tipo de vestimenta deve ser aplicada e etc., embora tais discussões possam ter algum valor, percebe-se que o real propósito do mandamento por vezes é esquecido. O intuito das franjas é:

“E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo.
Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Elohim. (Bamidbar/Números 15.39-40)

Não devemos atender a todos os impulsos que sentimos, nem permitir que nossos olhos nos levem a pecar, pois como disse Yeshua ha Notsri:

“Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Matitiyahu/Mateus 6.23)

Chavah (Eva) e David são exemplos clássicos de pessoas que “caíram” por causa do que viram, ou melhor, a má intenção de seus corações foi potencializada pelo olhar, não é por acaso que Sh’lomo escreveu:

“Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente.” Mishlei/Provérbios 23.3

Shabat Shalom!!!