sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 31/08/13 (Bamidbar 32)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Prosseguindo nossa sequência de comentários, chegamos ao perek (capítulo) trinta e dois do Sefer Bamidbar (Livro de Números), onde está relatado o pedido das tribos de Reuven (Ruben) e Gad, para não atravessarem o “Nahar Yarden” (Rio Jordão). Pedido este que revelam alguns dos aspectos mais negativos da natureza humana, o materialismo e a ganância.

Busque primeiro o Reino de Elohim.

Logo nas primeiras linhas deste relato, vemos a preocupação dos rubenitas e gaditas em reivindicar para si as terras de Iazêr e Gilead, pois estas atendiam bem as necessidades daqueles grupos já que possuíam muito gado. Até aqui, nada assim tão grave se a ordem das coisas não estivesse invertida, vejamos:

“E chegaram-se a ele e disseram: Currais edificaremos para nosso gado aqui e cidades para nossas crianças...” (Bamidbar/Números 32.16)

Alguns rabinos observam que ao citar “currais e gado” antes de “cidade e nossas crianças”, aqueles homens priorizavam sua vida material, este materialismo notório fez com que eles se esquecessem de sua vocação, que era juntamente com as demais tribos, conquistar a terra prometida! Se não fosse a repreensão de Moshe, provavelmente o tempo da conquista, se é que ainda haveria uma, seria mais longo, pois as fileiras israelitas estariam “esvaziadas” e desunidas.
De fato, quando a vida material é colocada como prioridade a tendência é nos tornarmos egoístas, causando cada vez mais desequilíbrio e desigualdade na sociedade. Sobre isto, um dos melhores ensinamentos sobre essa situação foi feito pelo Rabi Yeshua HaNetsari:

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Elohim e as riquezas.
Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
Pois, se Elohim assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
Mas, busquem primeiro o reino de Elohim, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Matitiyahu/Mateus 6.24-34)

Em épocas que os homens andam mais preocupados com o “Ter” do que com o “Ser”, nada melhor do que uma reflexão nestas palavras para não nos deixarmos levar por este mal.

Quem quer descer?

Para a maioria dos estudiosos, o termo “yarden” (Jordão), vem do verbo “yarad”, que significa descer. Logo, para o Nahar Yarden (Rio Jordão), dá-se o sentido de “aquele que desce”. Diante disso, poderíamos sugerir o seguinte: “Ruben e Gad não estavam dispostos a descer”.
Usando este episódio como uma analogia para retratar algo muito comum em nossos dias, perguntamos ao caro leitor: Você está disposto a “descer”? Ou seja, se humilhar, perder... Para que todos possam ganhar?
Sh’lomo (Salomão) em um dos seus provérbios ensina:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”
(Mishlei/Provérbios 16.18)

A nível individual, infelizmente, sempre haverá aqueles que se preocupam mais consigo mesmo, com sua reputação e prestígio ao invés de admitir um erro, de pedir desculpas e perdão. São pessoas orgulhosas que na verdade são o que chamamos de “ególatras”, pessoas que adoram a imagem que tem de si mesmas, cultivando inconscientemente a idéia de serem infalíveis.
Para nós israelitas a proposta se torna mais séria ainda quando consideramos a situação de nosso povo, pois enquanto mantivermos nosso orgulho ideológico, filosófico, cabalista, haláchico, chassídico, caraíta, reformista, reconstrucionista, sefaradita, ashkenazita, ou seja qual for a linha de pensamento e interpretação da Torah que tivermos, sem estarmos dispostos a descermos de nossos “pedestais”, não poderemos alcançar a promessa de novamente sermos um e estarmos sob um único Rosh, a saber, Melech HaMashiach.

Aprendendo a lição.

Felizmente o desfecho da situação não foi trágico, pois tanto os rubenitas quanto os gaditas e também meia tribo de Menashe (Manasses), retornaram à sensatez e à sua vocação:
Porém nós nos armaremos, apressando-nos adiante dos de Israel, até que os levemos ao seu lugar; e ficarão as nossas crianças nas cidades fortes por causa dos moradores da terra.
Não voltaremos para nossas casas, até que os filhos de Israel estejam de posse, cada um, da sua herança. (Bamidbar/Números 32.17-18)

No final, vemos que o desejo de Ruben e Gad foi concedido quando estes se comprometeram a lutarem com seus irmãos e de só retornarem para suas casas quando todos tivessem conquistado sua parte:

Então Moisés lhes disse: Se isto fizerdes assim, se vos armardes à guerra perante o Senhor;
E cada um de vós, armado, passar o Jordão perante o Senhor, até que haja lançado fora os seus inimigos de diante dele,
E a terra esteja subjugada perante o Senhor; então voltareis e sereis inculpáveis perante o Senhor e perante Israel; e esta terra vos será por possessão perante o Senhor;
(Bamidbar/Números 32.20-22)

De forma sutil, as palavras de Moshe, demonstraram qual deveria ser a escala de valores a ser cultivada por aqueles homens:

“Edificai cidades para as vossas crianças, e currais para as vossas ovelhas; e fazei o que saiu da vossa boca.”
(Bamidbar/Números 32.24)

Ao citar “Cidades e vossas crianças” antes de “Currais e vossas ovelhas”, Moshe estava colocando as coisas em seus devidos lugares. Que nós possamos avaliar como anda nossa escala de valores e, se preciso for, ajustemos tudo antes que causemos mais desigualdades e desequilíbrio.


Shabat Shalom!!!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 24/08/13 (Bamidbar 31)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Na sedrá deste Shabat, iremos analisar a vingança contra os midianitas. Obviamente, não é nada confortável falar de um assunto que envolve guerra, mortes e suas conseqüências como forma de implantação de uma justiça, pois isto vai de encontro a muitos discursos atuais, que visam a coexistência entre povos de culturas diferentes sob a égide da “Paz”. Certamente muitas discussões paralelas podem surgir e, se de forma anacrônica avaliarmos os textos, estaremos muito longe de enxergar os princípios que o perek (capítulo) 31 de Bamidbar (Números) quer nos ensinar.

Elimine o mal antes que seja tarde!

Interessante observamos a ordem dada a Moshe:

“Vinga os filhos de Israel dos midianitas, e depois serás juntado ao teu povo...”

Moshe deveria empreender uma campanha contra o povo que muito prejudicou a Israel durante sua peregrinação, causando uma praga que ocasionou em vinte e quatro mil mortes. Depois disso, ele seria “juntado ao seu povo”, ou seja, morreria.
Moshe foi o homem chamado a conduzir o povo à uma terra que manava leite e mel, a nível de explicação, poderíamos dizer que ele representa a consciência de alguém que pretende adentrar as promessas do Eterno, o “Olam Haba” (mundo vindouro). Sendo assim, analogamente, entendemos que antes de morrer, devemos eliminar tudo aquilo que pode nos desviar da Vida. Esta Vida é a promessa dada em Devarim (Deuteronômio) 30.15-20:

Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal;
Porquanto te ordeno hoje que ames a YHWH teu Elohim, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, para que vivas, e te multipliques, e YHWH teu Elohim te abençoe na terra a qual entras a possuir.
Porém se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido para te inclinares a outros deuses, e os servires,
Então eu vos declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolongareis os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que, entrando nela, a possuas;
Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,
Amando a YHWH teu Elohim, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar.

É enquanto estamos vivos que podemos fazer algo, por mais óbvio que isso possa parecer, muitos acreditam que depois que morremos temos como interferir no dia a dia das pessoas... Vejamos a opinião do sábio Sh’lomo:
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. (Kohelet/Eclesiastes 9.10)

Entendendo a Vingança.

A expressão:  נקם “nekom” (Vinga) vem da raiz “nakam”(vingar; vingança) e se não conhecermos o conceito de “vingança” em seu devido contexto, muitos mal-entendidos podem ocorrer.
Em primeiro lugar, devemos entender que a vingança aqui mencionada tem sua origem no Eterno e não no homem! Isto significa que a situação descrita nos fala da santidade e justiça do Eterno sobre aqueles que transgridem seus mandamentos (Torah). Neste caso, quando O Eterno ordena que parte dos israelitas saíssem contra os midianitas, eles estariam sendo instrumentos do Eterno, como “oficiais de justiça” indo comunicar a sentença do Juiz de toda a terra, contra àqueles transgressores. Provavelmente, era isto que o salmista tinha em mente quando escreveu:

Ó YHWH EL, a quem a vingança pertence, ó EL, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente.
Exalta-te, tu, que és juiz da terra; dá a paga aos soberbos. (Tehilim/Salmos 94.1-2)

Por que tanto rigor contra os midianitas?

Midian era o nome de um dos filhos que Avraham teve de Keturah (Ver Bereshit/Genesis 25.2). Logo, os midianitas eram os seus descendentes, ou seja, Midian era meio irmão de Yits’chak, o herdeiro da promessa. Mas apesar desta “proximidade”, os rumos foram completamente distintos, pois ao que parece Midian seguiu o caminho da idolatria como constatamos a seguir:

Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:
Afligireis os midianitas e os ferireis,
Porque eles vos afligiram a vós com os seus enganos com que vos enganaram no caso de Peor... (Bamidbar/Números 25.16-18)

O fato de serem descendentes de Avraham, não os livrou de uma sentença rigorosa, isto nos mostra que não basta ser “filho da Avraham pelo sangue” se não somos “filhos pela fidelidade”!
Quanto mais próximos de um conhecimento, quanto mais informação temos acerca de algo, maior é nossa responsabilidade e maior será o rigor com que seremos avaliados.
Mas aparentemente não foi necessariamente isso que causou tamanho rigor por parte do Eterno, e sim o fato dos midianitas, conforme diz o texto, enganar e seduzir os filhos de Israel ao erro, e assim como a serpente foi julgada com rigor no relato da criação em Bereshit (Genesis) 3. 14 e 15, os midianitas também foram.

Um memorial vivo.

Uma das coisas que nos chama a atenção neste relato, é o envio de sacerdotes e objetos sagrados ao campo de batalha, isso demonstra que a ação não estava desconectada dos valores espirituais e religiosos. Vemos aqui um grande ensinamento para os dias atuais, a saber: Tudo têm uma causa e conseqüência para a vida espiritual, por isso, mesmo em situações aparentemente inconseqüentes e inofensivas, ou nas mais difíceis e dramáticas, não podemos perder de vista os princípios que regem a vida de nosso povo. A presença de Pinchas no campo de batalha era uma forma de lembrar aos combatentes o porque de estarem ali, pois foi Pinchas com o seu zelo, que fez cessar a praga no arraial israelita ao derramar o sangue de Zimri e Kosbi, a midianita:

Vendo isso Finéias (Pinchas), filho de Eleazar, o filho de Arão, sacerdote, se levantou do meio da congregação, e tomou uma lança na sua mão;
E foi após o homem israelita até à tenda, e os atravessou a ambos, ao homem israelita e à mulher, pelo ventre; então a praga cessou de sobre os filhos de Israel.
(Bamidbar/Números 25.7-8)

Perversão ou Prevenção?

Nos passukim (versículos) 14 e 15, vemos a indignação de Moshe se acender contra os líderes dos exércitos israelitas, ao ver as mulheres e crianças midianitas sendo trazidas vivas, quando a ordem era outra. O que se segue é um cenário muito difícil de assimilar se olharmos com a perspectiva atual, pois o que vemos é uma ordem de matar mulheres cativas e todos os meninos que foram trazidos. Isso não seria uma perversão do princípio da misericórdia? Para avaliarmos a questão, devemos ter em mente que foram as mulheres midianitas os instrumentos do mal, que aceitaram as instruções de Bil’am e que levaram vinte e quatro mil israelitas à morte.
E os meninos... O que eles tinham a ver com isso? Na verdade, a morte destes meninos, assim como das mulheres, foi uma forma de prevenção de problemas futuros, pois a história israelita demonstra que quando esta forma de juízo não foi executada, nosso povo sofreu graves ameaças de extinção:

Depois destas coisas o rei Assuero engrandeceu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, e o exaltou, e pôs o seu assento acima de todos os príncipes que estavam com ele.
(Ester 3.1)

Acima lemos sobre a ascensão de Haman (que seu nome seja apagado!) ao poder, este homem veio a ser um dos maiores inimigos de nosso povo. Agora, vejamos outros textos:

Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito.
Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.
O que Saul convocou ao povo, e os contou em Telaim, duzentos mil homens de pé, e dez mil homens de Judá. (She’muel alef/1 Samuel 15.2-4)

Então feriu Saul aos amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito.
E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas; porém a todo o povo destruiu ao fio da espada.
E Saul e o povo pouparam a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e as da segunda ordem, e aos cordeiros e ao melhor que havia, e não os quiseram destruir totalmente; porém a toda a coisa vil e desprezível destruíram totalmente.
Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo:
Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e toda a noite clamou ao Senhor. (Sh’muel alef/1 Samuel 15:7-11)

 Entendemos então que ao não cumprir a ordem de matar Agag, Sha’ul permitiu que uma semente maligna sobrevivesse e, de fato, segundo o Midrash Ester Rabá, Hamán era descendente de Amalec. Mas de onde o midrash tira esta informação?
Simples. Pois como vimos acima, no capítulo citado do livro de Ester, Hamán é chamado de “HaAgaguí”, ou de “filho de Hamdata HaAgaguí”. “Agaguí” significa relativo à Agag, ou descente de Agag. Logo, se Agag era o rei dos Amalekitas, e se Hamán era descendente de Agag, então, Hamán é amalekita. Na literatura rabínica “Agaguí” e “Amalekita” são sinônimos.
Com este exemplo, entendemos que a lógica por trás da ordem de matar os meninos, era: “não devemos poupar aquilo que pode nos matar.” Pois certamente, se isso fosse feito, muitos inimigos iriam se levantar com o desejo de vingança contra Israel, como no futuro veio a acontecer com Haman.
Israel, nada mais fez do que exercer o juízo que O Eterno determinou contra àqueles que se opuseram aos Seus planos para com seus escolhidos e por causa desta condição de representante da Justiça Celestial tem sofrido, ao longo dos anos o ódio daqueles que estão alheios aos oráculos de YHWH. Contudo, apesar da incompreensão que têm gerado ameaças contra Israel cremos que:

Elohim é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.
Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares.
Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. (Selá.) (Tehilim/Salmos 46.1-3)


Shabat Shalom!!!

sábado, 17 de agosto de 2013

Fascínio envolvente ou perigo iminente?

Por Yochanan ben Avraham

Nada pode ser mais fascinante e assustador do que a mente humana. A capacidade que temos de criar ou destruir, orientar ou confundir, muitas vezes nos surpreende. Somos capazes, inclusive, de mudar até mesmo a imagem do Criador! Pense um pouco, se somos capazes disso, o que mais não poderemos fazer? Isto é alarmante... A questão é: com o que estamos comprometidos, com a ética, a justiça, o amor ou com o próprio ego? Pois isso fará toda a diferença no uso da mente, é a partir deste ponto que as coisas começam a se definir, é aqui que começamos saber se juntamos ou espalhamos, criamos ou destruímos, esclarecemos ou confundimos.

Ficamos admirando os avanços tecnológicos, nos maravilhamos com o que nossos aparelhos podem fazer sem nos darmos conta que por trás de toda essa parafernália, no nascedouro de todas estas coisas houve uma mente imaginando, criando meios para transportar algo que era abstrato, em realidade concreta.
Infelizmente, menosprezamos nossas faculdades subestimando as capacidades que nos foram concedidas pelo Criador e... Pior! Como disse no início, usamos isso para perverter tanto o sentido de Sua existência quanto o Seu caráter, pois é possível encontrar dissertações que acusam O Autor da vida de assassino, O Juiz de toda terra de sádico e injusto, usando, (por incrível que pareça) a própria bíblia... É lógico que os que assim fazem, utilizam artifícios engenhosos, constroem verdadeiros mosaicos de citações bíblicas fora de seus contextos, para criarem a imagem que desejam para provarem o que quiserem! Logo, repito: Se fazem isso com O Criador, com quem não poderão fazer? Não podem transformar um assassino num herói, um justo em um injusto ou vice versa?

Sim é o comprometimento com as causas citadas (ética, justiça, amor ou ego) que determinará o que faremos com as informações que temos a respeito de tudo, Religião, Política, Pessoas e etc.

Neste cenário, é preocupante a situação de algumas pessoas que, por força de uma condição (momentânea ou permanente), são como presas a mercê de verdadeiros “predadores intelectuais” preocupados apenas em satisfazer o próprio ego, saciando seu apetite por poder, vidas que se tornam com freqüência, vítimas de criaturas viciadas na arte da manipulação.
As perspectivas não parecem boas... Um rebanho indefeso, conformado a uma “vida de gado” esperando o abate, cuja trajetória se resume em ir de um “curral” para outro. E pra piorar, os que dizem usar a mente... mentem. Os que dizem querer libertar... Aprisionam. Por isso eu digo:

“Se for pra eu chegar a algum lugar, que seja com minhas próprias pernas; se for pra ver alguma coisa, que seja com meus próprios olhos; se for para ouvir algo, que seja com meus ouvidos... Assim, não serei presa de ninguém.”

Porém, há muitos séculos atrás, um homem fez uma súplica ao Criador:

“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” (Tehilim/Salmos 90.12)

Tempos depois, outro homem escreveu assim:

Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e maligna.
Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
(Ya’akov/Tiago 3.13-17)

Desta forma, surge no horizonte uma alternativa, pois um parâmetro se apresenta e nossa alma cansada pode desfrutar, ainda que por um breve momento, de um Oasis para nos refazermos e prosseguirmos em nossa jornada nesta terra tão árida...


Shavua tov!!!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 17/08/13 (Bamidbar 30)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Os comentários desta semana abordarão as instruções sobre os “nedarim” (votos). Alguns aspectos destes comentários certamente irão de encontro a certas tendências da sociedade contemporânea, o que a meu ver demonstra o quanto os princípios estabelecidos pela Torah, quando observados, beneficiam o ser humano. Consequentemente, a quebra destes princípios causa vários desequilíbrios nos mais diversos seguimentos da vida, impedindo-nos de desfrutarmos do shalom.

Quem fala demais...

A palavra “neder” (voto) tem em sua raiz a conotação de consagrar (dedicar ao serviço) verbalmente ao Eterno, em outras palavras, seria uma promessa de realizar algo.
As mitzvot (mandamentos) sobre os votos demonstram que nossa relação com Eterno, deve ser permeada por racionalidade e consciência de com quem, quando e onde estamos lidando! De fato, as palavras deste “perek” (capítulo) da Torah reverberaram, ao longo dos séculos, no coração do povo israelita como podemos constatar no Tanach e em outros documentos semitas:

Pagarei os meus votos ao Senhor (nedarai L’YHWH), agora, na presença de todo o seu povo. (Tehilim/Salmos 116.14)

Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Elohim; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Elohim; porque Elohim está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras.
Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras.
Quando a Elohim fizeres algum voto (neder), não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o.
Melhor é que não votes do que votares e não cumprires.
Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Elohim contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos?
Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Elohim. 
(Kohelet/Eclesiastes 5.1-7)

Ainda no primeiro século, podemos ver este princípio pulsando com veemência nos ensinamentos de Rabi Yeshua:

 Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor.
Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Elohim;
Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei;
Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.
Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. (Matitiyahu/Mateus 5.33-37)

Omissão masculina ou rebeldia feminina?

Do passuk (versículo) quatro até o final deste perek (capítulo), temos as instruções referentes aos votos feitos por mulheres. Nota-se então uma atenção especial dispensada a este detalhe, demonstrando claramente a autoridade que o homem possuía sobre estas, isto é obvio, pois se tratava de uma sociedade patriarcal. Contudo, ousamos dizer que esta autoridade não estaria limitada a questão sociológica. Estamos supondo que haveria uma razão para o homem ter este poder sobre a mulher, que só poderia, em tese, ser compreendida alguns milênios depois. É claro que tais palavras podem provocar nas mulheres contemporâneas e, quem sabe, alguns homens, repúdio, indignação e coisas do gênero considerando nossas palavras retrógradas e preconceituosas. Contudo, gostaríamos de basear nossa opinião em dados atuais, que demonstram um número cada vez maior de mulheres sofrendo doenças que anteriormente eram consideradas quase como uma “exclusividade” dos homens... Estamos nos referindo ao índice de mulheres enfartando mundo afora como disse o médico cardiologista Dr. Sérgio Augusto Latuf:

“Nos últimos tempos, a incidência de infarto do miocárdio nas mulheres aumentou assustadoramente. No Brasil, mulheres com mais de 40 anos, apresentam as mais altas taxas de doenças do coração da América Latina, superando o índice de mortalidade de tumores de útero e mama juntos. As doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço de todas as mortes de mulheres no mundo. São cerca de 8,5 milhões de mortes por ano.
As doenças como infarto e acidente vascular cerebral (derrame), sempre foram mais comuns nos homens até pouco tempo atrás. O infarto afeta cada vez mais mulheres e cada vez mais cedo.
Existem diversas justificativas que podem explicar os motivos pelos quais ocorreram essas mudanças. A mudança do comportamento e estilo de vida das mulheres alterou significativamente a qualidade de vida nas mulheres. O aumento da responsabilidade também é um dos principais motivos. Cerca de 45% das mulheres são chefes de família no Brasil, muitas delas ocupam cargos de liderança no trabalho, antes restritos aos homens”.

A mudança no estilo de vida das mulheres é considerada uma das causas do aumento deste índice. Esta mudança vem ocorrendo não apenas por causa do aumento populacional feminino, mas está atrelado aos novos conceitos que a sociedade contemporânea tem elegido conforme as seguintes informações:

 “O mundo vem passando por grandes mudanças nas últimas décadas. E não são apenas climáticas. São, também, de gênero. Os homens estão perdendo a hegemonia na escala econômica mundial. Desde a revolução sexual dos anos 60 do século passado, a crescente independência feminina chegou a ponto de, naturalmente, transformar as mulheres em motor do crescimento de um país.
Elas já são 44% da população economicamente ativa do Brasil, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Em uma década, 10,7 milhões de brasileiras ingressaram no mercado de trabalho. Seu poder crescente terá um impacto cada vez maior no desenvolvimento do País. Um estudo realizado em 2006 pelo Fórum Econômico Mundial concluiu que, quanto maior é a participação das mulheres na vida econômica de um país, mais desenvolvido ele é. Ou seja, lugar de mulher é na economia.” (FONTE: http://www.universitario.com.br/noticias/n.php?i=6084)

Toda mudança têm seu início e segundo Renato Cancian, o do comportamento das mulheres pode ser atribuído à Revolução Francesa:

“É possível encontrar na historiografia dos séculos 15 e 18 o aparecimento de temas dedicados à denúncia da condição de opressão das mulheres, tendo como principais fatores a superioridade e a dominação imposta pelos homens.
Porém, ainda não se pode atribuir aos mais variados escritos que surgiram nesse período o rótulo ou o conceito de "feminista". Por outro lado, os estudiosos do tema creditam ao contexto social e político da Revolução Francesa (1789) - e, portanto, do Iluminismo - o surgimento do feminismo moderno.”
(*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985".)

Não iremos estender neste comentário, todo o desenvolvimento da história do movimento feminista, pois faltará espaço e tempo hábil para relatarmos as nuance tanto de seu pensamento quanto da sua prática.

Em resumo, pode-se notar que as mulheres passaram a ficar sobrecarregadas, pois além de trabalharem fora precisam dar conta das tarefas domésticas! Suas estruturas começaram a se abalar... Na verdade, em vias de regra, por serem mais sensíveis, estão mais propensas a somatizações. Alguém então poderia sugerir que a solução seria o homem executar as tarefas domésticas, mas isso também tem seus efeitos psicológicos como aponta a seguinte pesquisa:

Joshua Coleman, psicólogo do Council of Contemporary Families (Conselho das Famílas Contemporâneas), comentou o estudo no site da organização americana e sublinhou que: as mulheres dizem sentir mais atração sexual e afeto pelos maridos se estes participarem nas tarefas do lar. No sentido oposto, advertiu que passar demasiado tempo com os filhos pode prejudicar a intimidade do casal e diminuir consideravelmente o número dos momentos românticos.

 Já o periódico American Sociological Review diz:

“Ao analisar dados de 4,5 mil casais americanos heterossexuais, os pesquisadores relataram que aqueles em que a mulher executava tarefas tradicionalmente “femininas” faziam sexo 1,6 mais vezes do que aqueles que dividiam as tarefas de modo igualitário.”

Qual é a relevância do sexo na vida de um casal? Esta é uma pergunta que cada um deve responder a si mesmo, no entanto, é notório que a freqüência deste ato trás conseqüências ao relacionamento, as quais são documentadas há muito tempo... Vejamos:

Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. (Curintayah alef/1 Coríntios 7.5)

Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações. (Kefah alef/1 Pedro 3.7)

Finalmente, gostaríamos de dizer que os desequilíbrios existentes na sociedade estão relacionados com a inversão de papéis tanto do homem quanto das mulheres. Pois muitos homens passaram a ‘fugir’ da responsabilidade de ser o provedor, obrigando as mulheres a assumir esta função. Em contra partida, também existem aquelas que não admitem, aceitam ou reconhecem os esforços de seus cônjuges para a manutenção do lar.

Vale lembrar que o matrimônio também é um voto, um juramento, um compromisso assumido entre um casal. Portanto, não é nenhum exagero incluí-lo como objeto de análise nesta sedrá (sequência de estudos).

Que possamos ter os devidos cuidados nos nossos relacionamentos com O Eterno e com nossos cônjuges.


Shabat Shalom!!!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 10/08/13 (Bamidbar 29)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.
 Na sequência de comentários do Sefer Bamidbar, hoje estaremos analisando o perek (capítulo) 29. Vale ressaltar que este capítulo é uma continuação das instruções sobre as ofertas para os dias festivos, especificamente os do sétimo mês. Veremos ao longo deste comentário que todas as celebrações desta época apontam para os acontecimentos na plenitude dos tempos.

Um breve esclarecimento.

Certamente você já ouviu que o ano judaico se inicia no sétimo mês, pois para alguns, em Israel existe um início civil e outro religioso para o ano. Porém, a Torah não nos diz nada parecido com isso! Diz sim, que o primeiro mês do ano é o mês que se celebra o Pessach como podemos constatar em Shemot (Êxodo):

E falou o Senhor a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo:
Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano.
Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família.
Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número das almas; cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme ao cordeiro.
O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras.
E o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o sacrificará à tarde.
E tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem.
E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães ázimos; com ervas amargosas a comerão. (Shemot/Êxodo 12.1-8)

Se o Pessach ocorre no primeiro mês do ano, nada mais obvio do que concluir que o ano se inicia ao que no calendário gregoriano, corresponde aos meses de Março e Abril, ou seja, no começo da Primavera no hemisfério norte.

Como, quando e onde começou a celebração do ano novo no sétimo mês?

Esta mudança é fruto de um sincretismo com uma celebração babilônica, durante o período em que os judeus estiveram exilados naquele império. Referimos-nos ao festival chamado “akitu” celebrado duas vezes por ano (plantio e colheita da cevada) a cada primeiros e sétimos meses dos anos.

Sétimo mês. Uma “sinopse” da plenitude dos tempos?

Tentaremos demonstrar que cada celebração do sétimo mês trás consigo, um profundo significado que pode estar revelando, a sequência dos eventos para a plenitude dos tempos.
O número sete está envolto em muitos simbolismos: descanso, plenitude, completude, perfeição e etc. Logo, a idéia de que justamente no sétimo mês ter o maior número de celebrações, nos atrai à reflexão e, consequentemente, vislumbramos algumas coisas que tanto na literatura rabínica, quanto nazarena (seguidores de Rabi Yeshua) são corroboradas...
O Sétimo mês inicia-se com uma celebração:

“Semelhantemente, tereis santa convocação no sétimo mês, no primeiro dia do mês; nenhum trabalho servil fareis; será para vós dia de sonido de trombetas.”
(Bamidbar/Números 29.1)
 
Este dia é descrito na Torah como “Yom Teruah” (Dia do brado), mas também é conhecida popularmente como “Festa das Trombetas”, pois é o dia em que, além de se tocar o Shofar (chifre de carneiro) anunciando o novo mês, deve ocorrer santa convocação e nenhuma obra servil deve ser realizada, e possível entender que o brado seria uma reunião para preces públicas, feitas em voz alta, por exemplo. Seria um dia para se fazer um “barulho santo”!
Uma das curiosidades desta festa é que seu propósito não é revelado como as demais, o que leva alguns comentaristas a atribuir certo mistério a esta celebração, devido a uma expressão utilizada em Vayikrá (Levítico) 23.24 – “Zichron Teruah”:

“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memorial com sonido de trombetas, santa convocação.”

A palavra hebraica traduzida para memorial é “Zichron”, por isso este dia também é conhecido como “Zichron Teruah” (Memorial do Brado). Destarte, surgiu a pergunta: “Memorial do que?” A partir desta pergunta muitas teorias são criadas, indicando que este brado aponta para o futuro. No entanto, “Zichron’ também pode ser traduzido como mencionar, inclusive como mencionar o nome do Eterno, como o termo está associado em algumas passagens do Tanach,o que faz com  alguns sugiram que Yom Teruah seja um dia de se bradar o Nome do Eterno em uníssono numa reunião pública.

No décimo dia deste mês, ocorre a mais sagrada celebração israelita, “Yom HaKippurim” (Dia das expiações). Neste dia aflige-se a alma, algo que foi entendido como um dia de jejum, que se inicia no por do sol do nono dia e termina no por do sol do décimo dia (ver Vayikrá/Levítico 23.32).
É interessante o entendimento que a tradição judaica tem deste dia, pois o considera como o dia em que o Tribunal do Eterno é estabelecido para decidir o destino da humanidade.

No décimo quinto dia, inicia-se “Sukot”, a festa das cabanas, também chamada de tabernáculos. Nesta celebração, o povo deve montar sua “suká” (cabana) em memória da habitação de nossos antepassados quando tirados do Egito pelo Eterno. Por sete dias devemos “habitar” nestas cabanas para que nossos filhos saibam a trajetória de nosso povo e não esqueça que somos dependentes do Eterno em um tempo em que o Eterno ‘habitava’ em nosso meio.

Considerando o propósito de cada Festa, temos a seguinte sequência:

  • Toca-se o Shofar.
  • As expiações são realizadas. (segundo a tradição, o Tribunal Celestial é estabelecido)
  • Cinco dias após, as tendas são montadas.
 Comparemos esta sequencia com as palavras de Guilyana (Apocalipse) que embora tenha sofrido muitas corrupções ao longo dos séculos e de estar envolto em muitas polêmicas acerca de seu conteúdo, não deixa de ser um documento que representa o entendimento de alguns judeus do primeiro século. Vejamos os textos:

Para “Yom Teruah”:

E, depois destas coisas ouvi no céu uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! A salvação, e a glória, e a honra, e o poder pertencem a Adonai Eloheino;
Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua fornicação, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.
(Guilyana/Apocalipse 19.1-2)

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão.
Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.
E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo.
E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Yeshua, e pela palavra de YHWH, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Mashiach durante mil anos.
(Guilyana/Apocalipse 20.1-4)

Para Yom Hakippurim:

E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,
E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha.
E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de YHWH desceu fogo, do céu, e os devorou.
E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.
E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles.
E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de YHWH, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.
E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.
 (Guilyana/Apocalipse 20.7-13)
Para Sukot (Tabernáculos):

E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
E eu, Yochanan, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de YHWH descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido.
E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de YHWH com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo YHWH estará com eles, e será o seu Elohim.
(Guilyana/Apocalipse 21.1-3)

Ou seja, segunda esta perspectiva, os eventos finais seguem a sequência das festas do sétimo mês: Yom Teruah, Yom Hakippurim e Sukot.

E no sétimo dia haverá descanso.

Na literatura rabínica encontramos algumas interpretações muito interessantes que complementa a idéia exposta acima, pois conta o tempo de uma forma que se encaixa com a sugestão acima descrita:

“O mundo deve existir por seis mil anos: dois mil anos de desolação, dois mil de Torah e dois mil dos dias de Mashiach.” (Sanhedrin 97A)

Estas etapas são divididas de modo a considerar cada dia da criação como se fossem mil anos, uma profecia para a longevidade da humanidade, ou seja, estão previstos seis milênios para a terra, o sétimo é o grande descanso, o estabelecimento do Reino de Mashiach ben David. Assim, dividindo os seis milênios teríamos três períodos de dois mil anos cada:

*Dois mil anos até Avraham, o período da desolação.

*Dois mil anos a partir de Avraham, o período da Torah.

*Dois mil anos finais, são chamados de “icveta dimeshicha” (passos do Mashiach)

Se considerarmos esta divisão, associando personagens históricos de cada período, poderíamos chegar a seguinte fórmula:

*De Adam à Avraham, dois mil anos.

*De Avraham à Rabi Yeshua, dois mil anos.

*De Rabi Yeshua até hoje, dois mil anos.

O Próprio Rambam dizia que esses seis mil anos espelham os seis dias da criação. Ele até compara os eventos de cada dia com seu milênio correspondente. A Chassidut também faz esta associação, vejamos como fica:

  • Primeiro dia (Mil anos) = Luz infinita criada representando a bondade do Eterno que alimentava as pessoas.
  • Segundo dia (Dois mil anos) = separação das águas de “cima” das de “baixo” representando o julgamento pelo grande dilúvio,
  • Terceiro dia (Três mil anos) = Começa a aparecer a porção seca e o propósito da criação começa a se revelar, representando o Êxodo do Egito e o surgimento do povo escolhido
  • Quarto dia (Quatro mil anos) = Os luminares são criados, Rabi Yeshua surge no cenário da História trazendo “luz” ao mundo com seus ensinamentos.
  • Quinto dia (Cinco mil anos) = As águas se encheram de criaturas vivas e aves voaram sobre a terra, aludindo ao governo das nações gentias no quinto milênio.
  • Sexto dia (Seis mil anos) = O Eterno termina sua Obra criando o homem, assim, também, no sexto milênio, o homem perfeito se manifestará, que na linguagem de Rambam é o Mashiach ben David, o Filho de HaShem.
  • Sétimo dia (Sete mil anos) = No sétimo dia O Eterno descansou, no sétimo milênio inicia-se o Reino de Mashiach ben David.
Concluindo...

Estaria a Torah revelando os eventos finais da humanidade por meio das festas do sétimo mês? De fato, o sétimo mês iniciava-se com um grande brado e na expectativa de alguns israelitas do primeiro século, a vinda de Mashiach ben David seria anunciada por um grande brado como se vê em outro documento desta época:

Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.
E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.
(Matitiyahu/Mateus 24.30-31)

Também na literatura rabínica é dito que a manifestação do Mashiach ben David será precedida por épocas difíceis marcada por degeneração moral, estando de acordo com isso os ensinamentos de rabi Yeshua:

E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
Mas todas estas coisas são o princípio de dores.
Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarào.
E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.
Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.
(Matitiyahu/Mateus 24.6-13)

Que O Eterno nos ensine a ler os tempos.


Shabat Shalom!!!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Sedrá para o Shabat de 03/08/13 (Bamidbar 28)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

Este capítulo trás as instruções sobre as ofertas cotidianas e, semelhantemente a Vayikrá (Levítico) 23, as ofertas para os dias festivos. Mas ao nos depararmos com a sedrá deste Shabat, nos perguntamos: “Qual a utilidade que as instruções sobre os sacrifícios podem ter para nós que vivemos na galut (exílio), sem cohanim (sacerdotes) e sem o Beit HaMikdash (Templo)?” Mais uma vez, quando atentamos para o “espírito” da Torah ao invés de somente na “letra”, podemos extrair muitas lições para o desenvolvimento de uma vida justa em conformidade com a vontade do Eterno. Isso é o que tentaremos demonstrar ao longo deste singelo comentário.

Entendendo os sacrifícios.

Antes de adentrarmos propriamente nos comentários deste perek (capítulo), vale lembrar que a Torah menciona sobre cinco tipos de sacrifícios, são eles:

*Olah - (Oferta de elevação; totalmente consumida pelo fogo.)

*Minchah - (Oferta de cereais; parcialmente consumida pelo fogo)

*Shelamim - (Oferta de paz; pode ser comida pelo ofertante e sacerdotes, sacrifício de comunhão)

*Chatat - (Oferta pelo pecado; caráter expiatório)

*Ashan - (Oferta pela culpa; caráter expiatório)

Os três primeiros sacrifícios deveriam ser voluntários, por isso é considerado como o tipo preferido pelo Eterno, pois deseja que a relação com Ele seja voluntária. Os dois últimos, chata e ashan, eram obrigatórios. Cada um destes sacrifícios trás à reboque um princípio que permanece em vigor, independente de tempo e espaço e é a partir disso que entendemos a importância deste relato para os dias atuais.

 “Olah”. O desafio da elevação contínua.

Diariamente, pela manhã e a tarde, deveria se apresentar ao Eterno em oferta de elevação um cordeiro (por cada período), que depois de sacrificado seria queimado sobre o altar, com isso, a fumaça proveniente deste ato subiria, ou melhor, era elevada até os céus, simbolizando a elevação do ofertante. Ou seja, por ser uma oferta voluntária, demonstra claramente que quem oferecia este tipo de sacrifício realmente estava buscando uma vida mais elevada, uma maior proximidade com o Eterno, pois a própria palavra “korban” que nos remete a idéia de oferta, significa literalmente, aproximação.
Considerando este princípio, percebemos o quão desafiador é para quem deseja se aproximar do Eterno e elevar sua vida nos dias de hoje, pois que está disposto a dedicar, diariamente, dois períodos de devoção ao Eterno? Sim... Pois o princípio contido nesta mitzvah (mandamento) é permanente! Logo, a aplicabilidade deste conceito é total.
Aqueles que, equivocadamente, dizem que “Jesus” (Yeshua) aboliu estes sacrifícios, deveriam ler com mais atenção o livro que declaram seguir, pois nele está registrado com clareza o seguinte:

“E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.
E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.”
(Ma’assei/Atos 3.1-2)

No momento em que Kefah (Pedro) e Yochanan (João) vão ao Templo, segundo os relatos da Brir Chadashah (chamada pelos cristãos de Novo Testamento, e desrespeitosamente, por Brit HaRá, por alguns judeus) Yeshua já havia morrido e ressuscitado, o que segundo a crença de alguns, teria abolido os sacrifícios, se fosse isso mesmo, o que Kefa e Yochanan iriam fazer no Templo na hora do sacrifício da tarde? Será que eles não sabiam que Yeshua aboliu os sacrifícios? Ou eles sabiam que qualquer que fosse o Mashiach, este não aboliria a Lei, mas a manteria elevando-a ainda mais? Entendemos que a segunda opção é a mais provável.
Outra peculiaridade do sacrifício “Olah” era que este era o único dos sacrifícios que o animal oferecido deveria ser totalmente queimado no altar. Portanto, era uma oferta inteira... Compare isso com o que diz Divrei Hayamim beit/ II Crônicas 25.1-2, 14:

“Era Amazias da idade de vinte e cinco anos, quando começou a reinar, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Joadã, de Jerusalém.
E fez o que era reto aos olhos do Senhor, porém não com inteireza de coração... E sucedeu que, depois que Amazias veio da matança dos edomitas e trouxe consigo os deuses dos filhos de Seir, tomou-os por seus deuses, e prostrou-se diante deles, e queimou-lhes incenso.”

Quando o nosso coração não é “inteiramente entregue no altar”, o risco dele ser entregue a outra coisa é eminente e as conseqüências geralmente são desastrosas. Não podemos esquecer que:

“Amarás, pois, a YHWH teu Elohim de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” (D’varim/Deuteronômio 6.5)

As Festas do Eterno. Dias para irmos além.

Como lemos na Torah, vemos o Eterno instruindo ao povo sobre como e quando as ofertas deveriam ser apresentadas, em relação ao que se lê em Vayikrá/Levítico 23, vemos que em Bamidbar temos incluídas as instruções para o Rosh Chodashim (início dos meses). O que nos chama a atenção é que, nos dias das Festas é recomendado, ALÉM das ofertas diárias, outras ofertas. Considerando isto, notamos que nestes dias as ofertas eram maiores, o ‘movimento no santuário era mais intenso’, por isso a necessidade de se abster de obras servis e, nos shabatot e yom ha kippurim de todas as obras! Pois eram dias de envolvimento total com o “avodat HaShem” (Serviço ao Eterno).
Segundo o que entendemos deste capítulo, é um dia para irmos além, de oferecermos mais Àquele que não nos deixa faltar nada, que nos protege, nos supre e orienta. A Ele seja a Glória para sempre... Amén! Nesta condição, lembramo-nos do salmista:

“Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?”
(Tehilim/Salmos 116.12)

Após se perguntar, ele mesmo responde:

“Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor.
Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presença de todo o seu povo.”
(Tehilim/Salmos 116.13,14)

Ao lermos esta resposta, somos remetidos a outra expressão envolvendo “cálice”, que nos fala de intensidade na devoção, vejamos:

 “E, saindo, foi como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.
E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.” (Lucas 22.39-44)

Vale lembrar que esta intensidade se deu em um dia festivo, no Pessach, durante a vigília ordenada pelo Eterno para esta ocasião como descreve a Torah:

“Guarda o mês de Abibe, e celebra a páscoa a YHWH teu Elohim; porque no mês de Abibe YHWH teu Elohim te tirou do Egito, de noite.
Então sacrificarás a páscoa a YHWH teu Elohim, das ovelhas e das vacas, no lugar que o Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome.
Nela não comerás levedado; sete dias nela comerás pães ázimos, pão de aflição (porquanto apressadamente saíste da terra do Egito), para que te lembres do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da tua vida.
Levedado não aparecerá contigo por sete dias em todos os teus termos; também da carne que matares à tarde, no primeiro dia, nada ficará até à manhã.
Não poderás sacrificar a páscoa em nenhuma das tuas portas que te dá YHWH teu Elohim; Senão no lugar que escolher YHWH teu Elohim, para fazer habitar o seu nome, ali sacrificarás a páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo determinado da tua saída do Egito. Então a cozerás, e comerás no lugar que escolher o YHWH teu Elohim; depois voltarás pela manhã, e irás às tuas tendas.”
(D’varim/Deuteronômio 16:1-7)

O relato de Lucas mostra, nada mais nada menos, que Yeshua, como um Tsadik (justo) estava cumprindo as determinações da Torah, em que, além das ofertas cotidianas oferecia, com maior intensidade sua devoção, ou seja abdicando de sua vontade para fazer a vontade do Eterno.

Teshuvah (Retorno)? Sim! Incoerência? Não!

Atualmente, vemos muitas pessoas buscando celebrar as “Festas do Senhor”, incluindo em sua agenda anual os dias relativos a estas celebrações. Isso não deixa de ser uma espécie de “despertamento”, é como se O Eterno estivesse chamando a atenção daqueles que são descendentes das tribos perdidas, (mas que ainda não sabem), de volta para casa! Contudo, dentre estes que têm desejado celebrar estas datas, nota-se ainda uma resistência ao Shabat, o que se configura numa grande incoerência! Pois o shabat é a primeira destas Festas! Como Levítico descreve:

“Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: As solenidades do Senhor, que convocareis, serão santas convocações; estas são as minhas solenidades:
Seis dias trabalho se fará, mas o sétimo dia será o sábado do descanso, santa convocação; nenhum trabalho fareis; sábado do Senhor é em todas as vossas habitações.” (Vayikrá/Levítico 23.1-3)

Esperamos que, mesmo em dias tão corridos, possamos realmente oferecer uma devoção plena, inteira, diariamente. Mesmo que para isso, como ensinou Rabi Yeshua, neguemos a nós mesmos.


Shabat Shalom!!!