sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sedrá para o Shabat de 26/10/13 (D’varim 1, 2 e 3)

Por Yochanan ben Avraham

Introdução.

D’varim, termo hebraico que significa palavras, de fato é o nome apropriado para o quinto livro da Torah, pois este é um livro de discursos. Discursos estes que, explicavam “esta Torah” a todo povo hebreu.
Nestes três primeiros capítulos do livro, nos salta aos olhos algo fundamental para o estabelecimento de um povo... Estamos nos referindo à memória. Por isso, nosso comentário estará voltado para este aspecto e não necessariamente a todo os eventos mencionados nestes capítulos.

Memória e identidade.

No tehilim (Salmos) 90, temos uma oração atribuída a Moshe pedindo que lhe seja concedida capacidade para contar os dias até que se alcance a sabedoria:

Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.
(Tehilim/Salmos 90.12)

Nenhuma sociedade terá continuidade se desprezar o seu passado, e a ligação com o passado é feita através da memória e é por meio dela que distinguimos o ontem do hoje,
confirmando que tivemos um passado, um caminho percorrido, enfim... Uma história. É essa história que nos dá um sentido de identidade, pois sabendo o que fomos e por onde passamos, sabemos quem somos e para onde devemos ir.
Há aproximadamente cinqüenta anos, o revolucionário conhecido por Che Guevara disse as seguintes palavras:

“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”

Ao ler os primeiros capítulo de D’varim, vemos que o princípio citado pelo famoso revolucionário, já havia sido revelado há milênios! Contando os dias de sua peregrinação, pontuando os diversos eventos ocorridos durante o percurso, Israel encontraria o equilíbrio entre o que era, é e deveria ser.
Bem depois disso, já no primeiro século de nossa era, mais uma vez a memória é evocada como algo fundamental para o êxito de nossa caminhada:

Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar... Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.
(Curintayah alef/1 Coríntios 10.1 e 11)

Verdadeiramente, um dos verbos mais significativos para o povo hebreu é “Lembrar”. É na lembrança que pode estar a diferença entre a vida e a morte, a benção e a maldição, este aspecto se torna interessante porque neste detalhe, algo presente na própria palavra revela algo importantíssimo,  ao utilizarmos a guemátria, isto é, o sistema de calculo das letras hebraicas, descobrimos que זכר “zakar” (Lembrar), tem o mesmo valor das palavras ברכה “berakah” (Benção) e בכרה “bekorah” (Primogenitura), ou seja, 227. Vale lembrar ainda que o sinal estabelecido pelo Eterno para distinguir seu povo é a guarda do Shabat, o único dos dez mandamentos que se inicia com a ordem, lembra-te!

Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
Mas o sétimo dia é o sábado do YHWH teu Elohim; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou YHWH o dia do sábado, e o santificou.
(Shemot/Êxodo 20.8-11)

Conclusão.

A benção e a primogenitura dos filhos de Israel estão intimamente relacionadas à lembrança, portanto, a sua memória. Logo, não é difícil imaginar porque Moshe começa seu discurso trazendo ao povo, as lembranças de tudo que viveram até chegar aquele ponto. Que neste Shabat, todos nós possamos aproveitar este momento para lembrar como chegamos até aqui e fazer os ajustes necessários para prosseguirmos nossa caminhada.


Shabat Shalom!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário